terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um amor que supera tudo - Final

Final Feliz

Zezé e Nina não se desgrudam um só minuto. Eles sabem exatamente o passo que o outro dá e não é super controle, é uma necessidade que os dois têm de estarem sempre juntos, se completando.
O casal, que hoje já tem 54 anos de casados, agora não vai mais aos bailes. Zezé agora toca na igreja e nas festas de Folia de Reis, Nina o acompanha a todo lugar, é claro. Eles vão juntos para a Unidade de Atendimento ao Idoso. Lá, ela faz fuxico, bordado, crochê e ele natação. Não é difícil se apaixonar por esse casal. É como quando se duas peças de quebra cabeça que se juntam para formar um só desenho.
Despeço-me do casal com um até logo, já que essa amizade ainda tem alguns bons anos para ser cultivada.

Um amor que supera tudo - 7



Após muitas turbulências, Nina e Zezé tiveram uma vida tranqüila e feliz por vários anos. Para eles o essencial é o amor e a fé. Por volta de 2005, algumas doenças de Nina se agravam. Diabetes, problemas na tireóide e coração a deixaram na cama. Ela precisava fazer cateterismo. Não podia pegar peso, cozinhar, passar ou lavar roupa, nada do serviço de casa. A cama era sua aliada.
Um vizinho lhe emprestou uma imagem de Nossa Senhora D’Abadia de Uberaba. Por um mês inteiro ela ajoelhou e fez sua oração. Por duas vezes foi ao hospital, mas o aparelho necessário para fazer a cirurgia estava estragado. O último dia da novena antecedia a mais uma tentativa de fazer a cirurgia. Quando ela terminou a oração o filho chegou à sua casa e lhe disse que o exame tinha sido desmarcado novamente e não havia previsão para voltar.
Nina então foi rezar e fazer um pedido à Nossa Senhora. “Eu pedi que ela me desse uma resposta sobre o que seria de mim. Se eu ia morrer ou ser curada, queria só uma resposta”, conta Nina emocionada.
E ela teve a sua resposta. “À noite, eu entrei no quarto chorando e de repente o meu quarto ficou muito claro e eu vi Nossa Senhora. Ela me falou assim: ‘Minha filha, não chora mais que sua vida vai mudar a partir de hoje.’ Eu dei um grito e o Zezé veio me ver e não quis acreditar em mim”, relata Nina chorando.
Depois disso, Nina foi ao médico no dia seguinte, fez exames e teve um diagnóstico. Nina estava mais forte do que o próprio médico. “O médico perguntou pro Zezé se ele tinha feito alguma macumba pra eu melhorar”, diz Nina em um tom revoltado.
Após a confirmação dos resultados, Nina voltou a sua vida normal. Agora só toma cuidado com açúcar para a diabetes.

Um amor que supera tudo - 6

O casamento

No dia 12 de abril de 1956, aconteceu o tão sonhado casamento, que segundo o noivo foi o dia mais feliz de sua vida. “Quando vi a Nina entrando na igreja, eu senti como se estive nascendo de novo”, diz Zezé com os olhos brilhando.
Poucos dias depois Nina teve que operar para retirar o apêndice que havia inflamado. Dona Avelina ainda pediu para o médico “ligar” a filha para que ela não pudesse engravidar. O médico não aceitou o pedido.
Depois de dois anos de casados nasceu o primeiro filho, Lemart. Zezé conta que, “depois que a mãe da Nina viu que ele não era escurinho ela apaixonou pelo menino e não saía mais de dentro lá de casa”.

Humildade

Dona Avelina, aos 53 anos, teve agravações na tireóide e diabetes. Ficou muito doente e no fim morreu nos braços da filha e do genro. Embora o casamento tenha acontecido e ela até melhorado, nunca pediu desculpas para Zezé pelas atitudes que teve.
Senhor Arlindo, algum tempo depois da morte da mulher sofreu derrame e ficou paralisado de um lado. “A gente levou ele pra morar na nossa casa, dava banho, cuidava dele o tempo inteiro”, conta Zezé. Também faleceu com a filha e o genro zelando por ele, como a esposa. O sogro, porém, se redimiu com Zezé. “Se alguém brigasse comigo ele comprava a briga. Era Deus no céu e eu na terra”, ele lembra saudoso.
Nina teve mais dois filhos, Leovaldo e Lenard. Leovaldo nasceu com sopro e não agüentou mais do que nove meses. “Naquela época a medicina era muito fraca, até cirurgia de apêndice era arriscado”, conta Zezé.

Dias de casados


A vida de casados sempre foi ótima, já que eles se amam tanto, como garante Zezé. Ele continuou a tocar nos bailes, mas agora iam todos. “Quando me chamavam eu aceitava só se minha ‘muié’ pudesse ir. Colocava a sanfona de um lado e a Nina e os meninos de outro e ia tocar nos bailes, depois de casado eu nunca fui tocar sem ela” se orgulha Zezé.
Sempre passou pelas dificuldades se fortalecendo na fé. Católicos, afirmam já ter recebido muitas graças pela intercessão dos Santos Reis e Nossa Senhora D’Abadia. Morou em Ponte Alta até 1990, quando voltaram para Uberaba.

Um amor que supera tudo - 5

A Saga

Mas é claro que Arlindo e Avelina não queriam nem ouvir o nome “José”. Nina, geniosa como ainda é, namorava escondido sobre os olhares afetuosos e cúmplices da madrinha Isaura Costa. “Ela me chamava pra ir ajudar na casa dela e chamava Zezé na pedreira, desse jeito a gente namorou dois anos assim”, relembra Nina.
Um dia, como só uma mulher decidida faz, Nina deu o ultimato, perguntou se Zezé tinha coragem de assumir o noivado novamente com ela. “Eu estava cansada de me encontrar com ele às escondidas. Não precisava pedir para ninguém, eu já era maior de idade”, diz a espanholinha.
Eles ficaram noivos e, ainda sim, Arlindo tentou convencer José a desistir do casamento. José então pediu que ele fizesse a proposta para a filha, sabendo da resposta. Arlindo desistiu da idéia, mesmo não concordando com o casamento.

Um amor que supera tudo - 4

Cafajeste

Tudo bem, Zezé era um moço de boa índole e família de respeito. Mas quem disse que ele não adorava um rabo de saia? Ele ficou noivo de Nina, continuou o noivado com Eli e ainda tinha outros truques. “Ele adiantava o relógio e me falava que tava na hora de ir embora, saía pras festas nas fazendas”, relata uma Nina com uma pontinha de ciúmes enquanto Zezé se diverte rindo, naquele estilo de criança que fez coisa errada.
Como dizem, “mentira tem perna curta”... E a de Zezé não demorou muito para ser desmascarada. Em um belo dia, eis que aparecem Eni e Maria Ferreira em Ponte Alta e param na casa de Nina, em uma conversa pra lá de séria com duas sogras, um sogro e duas noivas.
Discussão vai, discussão vem e no fim o término dos dois noivados. “A Nina e a Eni tiraram as alianças do dedo, eu tirei uma do dedo e outra da carteira”, se diverte Zezé contando a história.
Então Nina desistiu do seu amor? Não. As traições e mentiras não foram o bastante para que ela esquecesse o amado. “Eu sabia que ele era mulherengo, sabia da outra noiva, da vida inteira dele, mas eu gostava dele... Gostava não, eu gosto, sou louca por esse homem”, comenta Nina entre suspiros apaixonados.

Um amor que supera tudo - 3

O início

Não demorou muito para conhecer Nina nos bailes em que tocava e logo se encantar pela pequena moça dos olhos puxados. “Logo que a gente se conheceu a gente ficou se gostando”, conta Zezé. Logo, logo, o namoro entre os dois começou.
A noiva de Uberaba? Sim, ela continuava também. Durante a semana ele ficava com Nina e nos fins de semana com Eli.

Os problemas

Tudo mil maravilhas e claro começam os problemas também. Dona Avelina e Senhor Arlindo não suportavam a idéia de ver a filha namorando um negro. “Minha mãe chegou a dizer que preferia me ver morta que casada com um negro”, lamenta Nina, em tom áspero, não deixando de mostrar seu ressentimento com a mãe, mas eles não desistiram e a moça firmou e não terminou o namoro com Zezé.
Os pais percebendo que a filha não os ouvia, resolveram chamar o filho mais velho, Antenor de Souza Gargo, o Fiuco, que morava no estado de Goiás, para que ele convencesse a irmã de que não deveria continuar com o namoro. Antes, porém, Fiuco resolveu conhecer o rapaz com quem Nina estava.
Fiuco conheceu, perguntou, buscou a ficha completa de Zezé e chegou à conclusão de que era um moço de boa índole e “direito”, não via problemas no namoro. Mesmo assim, Avelina convenceu a família de que o melhor seria a filha longe da cidade e que ela deveria morar com o irmão mais velho. Nina ouvindo a proposta disse que concordava em ir morar com Fiuco, desde que ele aceitasse que Zezé a fosse ver todo mês porque ela não se separaria dele. Com essa proposta Nina ficou em Ponte Alta e assumiu o noivado.

Um amor que supera tudo - 2

Zezé

Zezé nasceu e cresceu em Uberaba, interior de Minas Gerais. De família humilde, não chegou a conhecer os pais. Antes mesmo de completar um mês de vida, o pai faleceu e mãe suicidou de desgosto. Até os nove anos foi criado pelos avôs Marçal Basílio de Oliveira e Maria das Dores de Oliveira, e depois pelos tios Antônio Inácio e Josefina Maria de Jesus.
Aos 18 anos entrou para servir o tiro de guerra. Lá arrumou um amigo que tinha uma namorada e precisava de companhia para a cunhada. Não pensou duas vezes e chamou Zezé para formar o quarteto. Ele então começou a namorar Eni Ferreira. A sogra, Maria Ferreira, era muito brava e protetora, e só permitia que o namoro continuasse se eles assumissem o noivado. Jovem e com os hormônios a flor da pele, não pensou duas vezes. “Eu não gostava dela, noivei só pra ter mais intimidade mesmo”, se defende Zezé.

Nina

Enquanto isso a descendente espanhola Nina, morava na cidade onde nascera, Ponte Alta, a 40 quilômetros de Uberaba. Os pais, Arlindo Gargo Durão e Avelina de Souza Gargo, mantinham os olhos atentos à única filha. Ao terminar o tiro, Zezé recebeu a proposta de ir trabalhar na pedreira da cidade de Ponte Alta. Desempregado, aceitou e foi morar na pequena cidade.